Jardins e iQuali Nove de Julho / Ep. 02 – A história em seu momento transformador

O Blog da QDI chega agora com o segundo capítulo da história do JARDINS, o tradicional bairro da cidade de São Paulo, cercado de virtudes que o fizeram tão nobre quanto desejado.

Neste segundo episódio, você vai conhecer a história da COMPANHIA CITY. Originalmente nomeada City of San Paulo Improvements and Freehold Land Company Ltd., é a empresa imobiliária inglesa que lança novos projetos e diretrizes no setor imobiliário paulista, tanto no aspecto arquitetônica e urbanístico quanto na comercialização dos imóveis para venda ou locação. A COMPANHIA CITY entra para a história do JARDINS como protagonista, pelo menos se forem consideradas as primeiras décadas do Século XX.

Como mencionado no primeiro artigo sobre a história do JARDINS, tudo o que COMPANHIA CITY se propôs a viabilizar, acabava por atender uma classe social paulistana de alto poder aquisitivo. Daí o primeiro efeito sentido no desenvolvimento da identidade do JARDINS: um bairro para privilegiados, com traços de exclusividade nos benefícios de morar bem, cercado de verde e com muita qualidade de vida.

O DESENVOLVIMENTO IMOBILIÁRIO E O PREÇO DO PROGRESSO.

São Paulo já é uma cidade de proporções gigantescas no início do Século XX. Áreas de extensões até onde “a vista alcançava” começam a ser negociadas a preços baixos. Vários desses terrenos são tomados por “grileiros. Outros recebem obras que, muitas vezes, não eram condizentes com as características topográficas do terreno. E mais: uma série desses lotes, apesar de serem vizinhos, passavam a ser explorados separadamente sem respeitar uma mínima relação mais racional entre si, a fim de permitir um crescimento urbano mais equilibrado.

O fenômeno do progresso tem o poder de justificar tudo: especulação imobiliária, compactação da cidade, uso indevido dos rios que se transformam em esgotos a céu aberto, etc.

A efetivação de uma infinidade de projetos dita o ritmo da evolução da Região Sudoeste. O alto poder aquisitivo de seus moradores tem forte influência nessa expansão. Tudo isso combinado dará todos os contornos necessários à afirmação da identidade e do desenvolvimento do bairro do JARDINS.

COMPANHIA CITY: UMA EMPRESA E SUA JORNADA NA HISTÓRIA DO JARDINS.

Era o ano de 1911. São Paulo cresce vertiginosamente, recebendo pessoas, projetos, negócios e muito mais. Entre os estrangeiros que aportam no Brasil, o banqueiro francês Edouard Fontaine de Laveleye chega com a intenção de estudar e viabilizar negócios de grande relevância em São Paulo. Em sua missão, é assessorado por um compatriota: o famoso arquiteto Joseph Bouvard que, após reuniões e definições com membros do governo paulista, se torna responsável pela criação de planos de incremento urbano bem como de estudos que alteravam projetos a serem executados em São Paulo.

Para que os primeiros objetivos da COMPANHIA CITY fossem alcançados, o arquiteto Bouvard recomenda ao banqueiro Fontaine que compre grandes extensões de terra na cidade para futuros empreendimentos imobiliários. Cada passo era dado com total consciência do progresso que trazia mudanças e impactos na vida paulistana. Sem contar que empresários e profissionais qualificados em vários segmentos de trabalho tinham claríssima noção do crescimento da economia do Estado de São Paulo e de como seus resultados eram direcionados, prioritariamente, para a capital.

Sendo assim, a escolha pela compra de terras se dá nas zonas Sul e Oeste da metrópole. Ricos e poderosos proprietários daqueles tempos são procurados. As dimensões causam estranhamento para os padrões atuais e um exemplo muito ilustrativo que acabou por influenciar de forma impactante a história do JARDINS teve como protagonista o Dr. Cincinato da Silva Braga.

Figura de destaque no cenário imobiliário paulistano, Cincinato Braga foi homenageado com uma das mais importantes ruas do JARDINS, paralela à Avenida Paulista. Braga negociou com os franceses algo em torno de 12.000.000 de metros quadrados – isso mesmo, você não leu errado: foram 12 MILHÕES de METROS QUADRADOS! – de terras na capital! O evento comercial, digamos assim, possibilitou a constituição de uma firma com sede em Paris e atuação na compra, venda e construções naquela cidade.

O PODER FINANCEIRO DO SETOR PRIVADO NA HISTÓRIA DO JARDINS E NA CONSTRUÇÃO DE SÃO PAULO.

O francês Edouard Fontaine vai à Europa e se une a banqueiros londrinos. Na própria Inglaterra, no ano de 1911, a parceria lança a City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited. Contando ainda com a participação de nomes fortes do mundo político e financeiro da Europa e do Brasil, a companhia inicia um processo de urbanização em determinadas áreas de São Paulo com a implantação de loteamentos dotados de características próprias. Aos poucos, começam a comercialização de vários lotes nas seguintes localizações: Vila Mariana (211.643 m2), Ibirapuera (320.345 m2), Moóca (400.000 m2), Vila Leopoldina (10.000 m2) e Ipiranga (48.100 m2).

Além das zonas Sul e Oeste, a COMPANHIA CITY volta seu interesse a terrenos situados no Sudoeste da cidade, a partir de 1912. São feitos novos levantamentos topográficos e planejamentos são concebidos para dar conta de um melhor aproveitamento das áreas, sempre com o foco na alta qualidade das construções, bem como no design arquitetônico importado de grandes centros Europeus. Seja na parte estrutural como nos detalhes decorativos.
Na manutenção do alto padrão – comportamento que será decisivo na história do JARDINS – a empresa canaliza seus esforços na estruturação daqueles considerados “bairros-modelo”. São eles: Jardim América, Pacaembú e Anhagabaú, os três considerados solidamente de “primeira classe”, podendo ser alcançados apenas por cidadãos ricos.

Paralelamente, outros bairros começam a nascer dentro dos planos de crescimento da COMPANHIA CITY. Contudo, o perfil socioeconômico variava. Alguns exemplos são: Alto da Lapa, Bela Aliança e Alto dos Pinheiros (destinados à classe média), Vila Romana e Butantã (destinados à classe operária). Enfim, com o lançamento de Boaçava em 1949 e Jardim Guedala em 1950, a COMPANHIA CITY conclui os trabalhos de loteamento nas áreas adquiridas em 1911.

A CONQUISTA DE TERRITÓRIOS (EM TODOS OS SENTIDOS!).

Desde o inicio de suas atividades no Brasil, a COMPANHIA CITY exerce suas funções também com o cuidado de instalar a toda a infra-estrutura necessária nos bairros que lançava. Para tal, ela primeiro se mostra extremamente capacitada nos campos técnico e financeiro. E em seguida, faz uso de admirável habilidade no manejo de sua rede de relacionamentos. A combinação traz o resultado esperado: contratos fechados com o governo e com empresas privadas fornecedoras de bens e serviços.

Os acordos envolviam tanto órgãos oficiais como empresas do setor privado. Exemplos emblemáticos disso foram as parcerias fechadas com a São Paulo Railway Co. e a Light & Power Co. Na prática, a COMPANHIA CITY chega atuar também na retificação do Rio Pinheiros e na canalização do rio Tiete em 1928. Estas duas, obras realizadas a partir de negociações com a Prefeitura de São Paulo.

No setor de vias públicas, a City atua na abertura da Avenida Anhangabaú (atual 9 de Julho) bem como no prolongamento da mesma, quando alcança os terrenos do Jardim América.

HÁ MAIS DE 120 ANOS, MORAR EM SÃO PAULO É VIVER EM CONCEITO ELEVADO.

Não é exagero dizer que a COMPANHIA CITY começou com a história do JARDINS em alto nível. Tendo o JARDIM AMÉRICA no epicentro das ações da empresa, a envergadura de seus fundadores e dos profissionais do setor privado e público ergueram ruas, avenidas, quarteirões, residências e toda a infraestrutura que forjaram o bem estar e a qualidade de vida para moradores de São Paulo.

Ao longo dos anos 1930, a COMPANHIA CITY se confirmou como a maisimportante empresa imobiliária de São Paulo. As conquistas foram alcançadas não apenas na “malha urbana”, no sentido “concreto” da expressão. Também nos bastidores, a organização agiu com destreza política e foi capaz de participar de decisões fundamentais para elaboração de leis pertinentes ao Código de Obras Municipal. Sua postura corporativa foi longe: em 1937, a COMPANHIA CITY enviou uma representação de profissionais especialistas ao Legislativo Estadual para que estes solicitem e conquistem o direito de atuar na modificação do local da Cidade Universitária. O acontecimento histórico para o setor estabeleceu a COMPANHIA CITY, definitivamente, como a maior empresa imobiliária do Brasil. Provavelmente, também da América do Sul.

No próximo artigo sobre a história do JARDINS, você vai conhecer aspectos muito peculiares do bairro e vai descobrir porque a vocação herdada de seus criadores nunca “perdeu sua Majestade”.

Não perca, hein? E aproveite para acompanhar outros artigos sobre bairros nobres e tradicionais de São Paulo no Blog da QDI, além de outros temas do universo imobiliário.

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