No século XIX, enquanto as grandes cidades da Inglaterra estavam se expandindo rapidamente, o conceito revolucionário de “GARDEN CITIES” surgiu como uma resposta ao caos urbano e à falta de qualidade de vida enfrentada pelos habitantes. Inspirado por visionários, o movimento das chamadas “GARDEN CITIES” buscava uma abordagem mais equilibrada e sustentável para o desenvolvimento urbano.
Tudo começa quando Howard fica conhecido por escrever uma publicação intitulada “CIDADE-JARDIM DE AMANHÔ, no de 1898. No texto, ele descreve uma cidade utópica em que pessoas viviam harmonicamente em contato rotineiro com natureza por conta de uma combinação muito bem planejada e coerente entre residências, ruas e áreas verdes. A publicação resultou na fundação do movimento das “CIDADE-JARDIM”. As primeiras foram construídas justamente na terra natal de Howard, no início do século XX.
Entre esses visionários, um nome entraria para a história das cidades estruturadas sobre o conceito “GARDEN CITIES”: o britânico Sir Ebenezer Howard. Nascido em 29 de Janeiro de 1850, na capital Londres, Howard foi comerciante, trabalhou em fazendas e foi até repórter antes de se tornar um “urbanista” e idealizar um modo de vida para grandes cidades que beirava a utopia. Um sonho que se tornaria realidade em muitos lugares do mundo. Inclusive no Brasil, em São Paulo, onde ficou marcado como componente-chave na história do JARDINS.
Na qualidade de uma mente à frente do seu tempo, Ebenezer Howard, concebeu a ideia da “GARDEN CITY” como uma solução para os problemas sociais e ambientais das cidades industriais em crescimento. Sua visão era criar comunidades planejadas que combinavam o melhor do ambiente urbano e rural, proporcionando um estilo de vida saudável e ao mesmo tempo prazeroso e funcional para seus residentes.
Uma característica fundamental das “GARDEN CITIES” era a ênfase na integração entre áreas residenciais, espaços verdes e infraestrutura bem planejada. Cada cidade foi projetada para ser autossuficiente, com zonas claramente definidas para moradia, trabalho e lazer. Ruas arborizadas, parques, jardins comunitários e espaços abertos eram elementos essenciais do design urbano, promovendo um ambiente natural e acolhedor para os moradores.
Além disso, os idealizadores das “GARDEN CITIES” tinham uma preocupação genuína com a equidade social e a qualidade de vida dos habitantes. As casas eram projetadas para serem acessíveis a pessoas de diferentes origens socioeconômicas, promovendo a diversidade e a inclusão. Howard também propôs uma estrutura de propriedade coletiva da terra, garantindo que os benefícios do desenvolvimento urbano fossem compartilhados pela comunidade como um todo.
REGRAS PARA A CONVIVÊNCIA E PROSPERIDADE DOS MORADORES.

A ideia de “CIDADE-JARDIM” de Howard não visava fins lucrativos. A terra era comprada por uma sociedade anônima e paga pelos indivíduos pretendentes a moradores das mesmas. Estes, no entanto, mesmo depois de quitarem o pagamento total de seu espaço, não se tornavam seus proprietários. A propriedade era considerada um bem da comunidade que ali se instalara e passava a ser mantida pelas pessoas pertencentes a esse grupo social comunitário, na qualidade de moradores, ocupantes e usuários do espaço urbano ali estabelecido.
Ainda segundo os ideais de Howard, os terrenos seriam concedidos na modalidade de aluguel por um período de 99 anos. Além disso, uma série de regulamentações era elaborada para satisfazer as expectativas dos moradores. Outras condições estabelecidas eram:
a rede viária e as instalações seriam executadas pela sociedade;
proibição de concorrência comercial;
não-poluição por indústrias;
proibição de tocar sinos nas igrejas e nas escolas;
controle na criação de animais domésticos para não perturbar nem trazer qualquer tipo de dano à saúde pública. O projeto do urbanista inglês que foi considerado a matriz das “GARDEN CITIES” era carregado de rigidez no espaçamento e estruturação das áreas. Uma característica visivelmente marcante desde os desenhos originais. No entanto, esse perfil veio a ser revisado e transformado ao longo das décadas por diversos especialistas do setor, quando da viabilização e materialização dos projetos arquitetônicos na prática.
A missão desse gênero de áreas residenciais era redimensionar os padrões sociais e econômicos da época. Por incrível que pareça, quando pensamos que bairros como o JARDINS em São Paulo tem em sua gênese os princípios de uma “GARDEN CITY”, Ebezener Howard idealizou a sua “CIDADE JARDIM” como uma solução que se contrapunha à aglomeração urbana da conhecida Era Vitoriana, vigente na Inglaterra de meados do Século XIX ao início do Século XX.
Uma “GARDEN CITY” almejava unir no plano social, o espaço coletivo pensado pelos teóricos ao conceito da habitação unifamiliar defendida muitas vezes pelo poder público vigente no país.
Esta virtude do projeto foi de um valor histórico tão grande que, por décadas a fio, o plano de se morar em bairros ajardinados democraticamente acessível a todos, foi retomado várias vezes por muitos urbanistas, arquitetos e engenheiros. Eles acabaram por incorporar melhorias ou ajustes que permitiram que uma “GARDEN CITY” se concretizasse dentro das grandes metrópoles.
Já no início do Século XX, inúmeros subúrbios das principais cidades europeias adotaram a forma de “CIDADE-JARDIM”. E naqueles tempos, ela estava acessível a uma camada da população mais baixa graças ao perfil popular das habitações. Não se pode descartar também o fato de que a classe capitalista burguesa via nesse modelo uma forma de deixar os menos abonados morando numa zona periférica e afastada do centro aristocrático. Provavelmente, pelo diferencial da proximidade com a natureza, a mentalidade dos poderosos da época enxergava nas “GARDEN CITIES” um local com cara de vida rural. Sem falar que os bairros eram construídos pelos próprios operários que neles iriam morar.
Nos Estados Unidos, um fato curioso sobre as “GARDEN CITIES” que se instauraram por lá: elas tinham o intuito de garantir moradia à camadas mais baixas da população para que estas pudessem estar bem próximas de seus locais de trabalho. Entretanto, a identidade de um “subúrbio-jardim” despertou interesses dos opostos. Em muitos lugares, o bairro do tipo “GARDEN CITY” passou a ser desejado e ocupado por cidadãos do topo da pirâmide social, como empresários, fazendeiros e ricos de tradição.
JARDIM AMÉRICA: O EMBRIÃO DO JARDINS INCORPORA UMA “GARDEN CITY EM SÃO PAULO.
A COMPANHIA CITY – empresa vital na história do JARDINS e que foi tema no artigo anterior – investe pesadamente na instauração do bairro JARDIM AMÉRICA. Começando pela área territorial de vasta imensidão para os padrões da época. Projetando ali um refinadíssimos padrão urbano, os profissionais da empresa desenham um bairro que viria a ser o primeiro empreendimento de mega proporção na América do Sul dentro do estilo de uma “CIDADE-JARDIM”. O local todo chegava a mais de 1 milhão de metros quadrados de área.
Algumas regiões já estavam devidamente loteadas e muitas vias de acesso a elas estavam constantemente alagadas. Eram os casos da Rua Augusta, Avenida Rebouças – chamada inicialmente de Rua Itapirussu – e Avenida Brasil. Uma alternativa que abrisse caminho para o novo bairro era a Rua Cardeal Arcoverde. Diante desse cenário desafiador, a COMPANHIA CITY se vê obrigada a investir pesado em infraestrutura, visando a melhoria da mobilidade urbana. Além de evitar que as principais vias para uma tão falada “GARDEN CITY” pudessem gerar uma sensação de desvalorização aos futuros compradores.
O projeto original previa uma praça central. Em torno dela, subiriam edifícios públicos, escolas, igrejas, teatros e uma área para esportes. A avenida de localização (Av. Brasil) teria 30 metros de largura, com um canteiro central de 9 metros que dividia a via em duas pistas. As ruas limítrofes foram estruturadas em função do bairro e permitindo-lhe maior facilidade de acesso.
A princípio, haveria espaço previsto para um distrito comercial no cruzamento da Rua Colômbia com a Avenida Brasil, com 17 lojas e armazéns. Curiosidade: o comércio seria vedado em qualquer outro ponto do bairro. A menos que, no futuro, a demanda de consumo exigisse mais espaço para suportar a circulação de um público bem maior. Internamente no bairro, haveriam ainda 11 jardins internos que variavam entre 4 e 10 mil metros quadrados de área.
BARRY PARKER: UM OUTRO OLHAR BRITÂNICO NA HISTÓRIA DO JARDINS.

Eis que, em 1917, uma nova figura entra em cena: o arquiteto e urbanista inglês Barry Parker. Entusiasta das ideias revolucionárias de Ebezener Howard, Parker chega para viabilizar a construção dos bairros ajardinados e consolidar o conceito britânico das “GARDEN CITIES”. E acaba por transformar um dos pilares motivadores do conceito elaborado por Howard. O inglês recém-chegado ao Brasil identifica no JARDIM AMÉRICA a necessidade de se criar atrativos para os futuros compradores, tanto no desenho, no planejamento e na gerência, como também no tipo de construção. Tudo com a intenção de despertar um desejo especial na clientela que viria a se interessar, munida de posses financeiras e em busca de uma vida exclusiva, com bem estar, qualidade e proximidade com uma natureza diferenciada dentro da cidade.
O projeto é quase totalmente remodelado e o loteamento torna-se estritamente residencial: a ideia de prédios públicos concentrados em um local específico é abandonada e o distrito comercial anteriormente planejado no encontro da Rua Colômbia com a Avenida Brasil é transferido para o trecho da Rua Estados Unidos. A área destinada a prática de esportes é mantida, sendo posteriormente vendida para que ali se instalasse o Clube Atletico Paulistano. As únicas concessões da COMPANHIA CITY, além do Paulistano, foram liberar a construção da Sociedade Harmonia de Tênis e sa Igreja Nossa Senhora do Brasil.
No passar dos anos, ocorrem ainda na região:
calçamento das ruas;
iluminação pública;
início do serviço de ônibus.
abertura da Av. Nove de Julho
Na evolução do JARDIM AMÉRICA, as décadas viriam nascer em São Paulo os bairros adjacentes que se tornariam uma espécie conglomerado urbano conhecido como o JARDINS. São eles: JARDIM EUROPA, JARDIM PAULISTANO, JARDIM PAULISTA e CERQUEIRA CÉSAR.
A “CIDADE-JARDIM”, em qualquer local do mundo metropolitano, não foi apenas um experimento teórico. Mas, sim, a consolidação de projetos pioneiros que influenciaram profundamente o planejamento urbano moderno e inspiraram o surgimento de comunidades planejadas em todo o mundo.
Embora o conceito das “GARDEN CITIES” tenha evoluído ao longo do tempo, sua visão de cidades sustentáveis, humanas e integradas continua a ser uma fonte de inspiração para urbanistas e planejadores urbanos contemporâneos em busca de soluções para os desafios urbanos do Século XXI.