O bairro do JARDINS, situado na região nobre de São Paulo, passou por um notável crescimento e desenvolvimento ao longo das últimas décadas do século XX, transformando-se em um dos endereços mais desejados pela classe média paulistana.
Como vimos nos artigos anteriores, a história do JARDINS traz, inicialmente, um bairro composto majoritariamente por chácaras e fazendas, sendo pouco habitado e com pouca infraestrutura. No entanto, a partir dos anos 1950, com o processo de urbanização acelerado da cidade, o JARDINS começou a ser loteado e ocupado por residências de alto padrão.
Um dos principais marcos desse desenvolvimento foi a abertura da Avenida Paulista, que se tornou o principal centro financeiro e cultural da cidade. Com isso, o entorno da Paulista, incluindo o próprio JARDINS, passou a atrair investimentos e empreendimentos de luxo, como hotéis, restaurantes, galerias de arte e lojas de grife. Com o passar das décadas, a avenida viria a se tornar uma espécie de “cartão postal”, em que pesavam os traços de uma metrópole gigante, efervescente, incansável, trabalhadora e internacionalizada pelos negócios e mercados emergentes.
Alguns endereços emblemáticos que contribuíram para a evolução do bairro foram as próprias ruas. Algumas até sendo alçadas à categoria de célebres, como Rua Oscar Freire, conhecida por suas lojas de luxo e boutiques de grife, e a Alameda Lorena, que também se tornou um importante polo comercial e gastronômico.
A CIDADE NÃO PARA. NEM O BAIRRO.
Com o crescimento e valorização do Jardins, o modo de vida dos paulistanos sofreu uma significativa transformação. O bairro passou a representar não apenas um local de residência, mas também um estilo de vida sofisticado e cosmopolita contornado por muito bem estar. A presença de restaurantes renomados, cafés charmosos, lojas de moda internacional e espaços culturais, tornou o JARDINS um destino consagrado para compras, lazer e entretenimento.
Além disso, a segurança, a infraestrutura e a qualidade de vida oferecidas pelo bairro atraíram uma grande quantidade de moradores de alto poder aquisitivo que buscavam conforto e praticidade em uma localização privilegiada na cidade. Isso contribuiu para uma valorização imobiliária do JARDINS que o tornaram um dos metros quadrados mais caros de São Paulo e também do Brasil. Alguns imóveis, inclusive, são dignos de comparação – em estilo e valor monetário – a empreendimentos localizados nos mais renomados centros urbanos do mundo, como Nova York, Londres e Paris.
Nas últimas décadas do Século XX e início do XXI, a verticalização, acompanhada da preservação de áreas verdes e ruas arborizadas, criou um conceito “camaleônico” para o JARDINS. Em outras palavras, o bairro passou a ser um dos mais atraentes pois resolveu a equação que é o árduo e eterno desafio para qualquer morador da cidade: viver e trabalhar sem perda de tempo, energia e riscos demasiados no deslocamento entre a casa e o trabalho.
Evidente que o custo de vida seguiu a elevação do padrão arquitetônico e conceitual do JARDINS. Mesmo assim, o bairro é múltiplo em opções para todos os gostos e bolsos. Que outra região consegue ser tão democrática? Afinal, é no JARDINS que, em meio a bares, lanchonetes e pontos populares de diversos gêneros, também prosperam os endereços mais nobres e tradicionais para classe média alta paulistana. A evolução tão acentuada e sem comparação com o ritmo do resto do país, deu espaço a um “território-ícone” de pujança metropolitana combinada com sofisticação e glamour.
A VALORIZAÇÃO URBANA NA HISTÓRIA DO JARDINS.
Na década de 1950, o tal processo de verticalização começou a ganhar força na história do JARDINS com a construção de edifícios de apartamentos de alto padrão. A arquitetura arrojada e a presença de áreas verdes conferiram ao bairro um charme único, atraindo uma camada mais abastada da sociedade. Fosse no aspecto socioeconômico como também no critério educativo-cultural.
Um empreendimento que se valeu da vocação elitista do bairro foi o Shopping Iguatemi, inaugurado em 1966, e que foi um marco importante como o primeiro shopping center da cidade. Ao mesmo tempo, o Iguatemi acabou por contribuir de modo relevante na consolidação dos JARDINS como um novo polo de consumo de produtos de luxo. O comércio de alto padrão atraiu uma clientela exigente. E a vida noturna se agigantava com ainda mais sofisticação em casas noturnas e restaurantes badalados.
A história do JARDINS alcançava, então, um momento climático que perpetuaria para sempre seu status de exclusividade. O tempo seguiu acelerado na direção da virada do século. Endereços como a Rua Oscar Freire, conhecida por suas lojas de grife e a Avenida Paulista, com seus arranha-céus imponentes, consolidaram o JARDINS também como um reduto de elegância e prosperidade. Exemplo peculiar mas muito influenciador dessa identidade foi a disseminação de casas como galerias de arte e embaixadas de diversos países que aprofundavam ainda mais o fator cosmopolita de São Paulo, em pé de igualdade com muitas outras capitais do mundo.
A valorização imobiliária foi um reflexo direto desse processo, tornando-se um investimento muito rentável e seguro. A classe média paulistana aspirava residir no JARDINS em busca não apenas de um lar, mas de um estilo de vida que refletisse prosperidade e prestígio.
O PROCESSO DE GENTRIFICAÇÃO NA HISTÓRIA DO JARDINS.
Na esteira de tantos endereços especiais que se instauravam no JARDINS, também passam a marcar presença no bairro, renomadas escolas e centros culturais. Um fenômeno que veio a calhar para famílias que sonhavam com moradias cercadas de educação de qualidade para seus filhos, com acesso fácil, rápido e seguro.
Porém, nem tudo “são flores” na história do JARDINS. Sua evolução não esteve isenta de desafios polêmicos como a pressão sobre a infraestrutura e o aumento do tráfego na região. Sem falar nos efeitos da “gentrificação”. Motivo de constantes estudos no panorama atual em muitos lugares do mundo, a “gentrificação” é uma ação que visa recuperar e revitalizar uma área imobiliária degradada. Por outro lado, ao realizar a restauração de imóveis, todo o conjunto imobiliário, supostamente popular, acaba por se “enobrecer” e elevar os custos de vida a patamares bem altos. Resultado: moradores locais de baixo nível socioeconômico sofre forte impacto em seu poder aquisitivo. No caso do JARDINS, o fato gerou debates sobre a preservação do caráter original do bairro, levando a discussões sobre a necessidade de equilibrar o desenvolvimento urbano com a preservação da sua identidade histórica.
QUEM NÃO QUER VIVER CERCADO DE TANTA COISA BOA?
Além da Avenida Paulista, vários outros pontos foram fundamentais na história do bairro do JARDINS em São Paulo, contribuindo significativamente para o seu renome. Dentre eles, destacamos:
Rua Oscar Freire – Conhecida como uma das ruas mais luxuosas e exclusivas da cidade, é um ícone do JARDINS e famosa para consumidores de todo o Brasil. Repleta de lojas de grife, butiques de moda, galerias de arte e restaurantes sofisticados, é ponto de referência para o comércio de alto padrão em São Paulo. Seu nome é uma homenagem ao médico e político brasileiro Oscar Freire de Carvalho, nascido em 1847 e falecido em 1897. Renomado em sua carreira médica e também professor de medicina, ficou reconhecido por suas contribuições para o avanço desta área no Brasil. Além de sua atuação na saúde, teve uma carreira política ativa, sendo eleito vereador e deputado em São Paulo. A escolha do nome da rua em sua homenagem é um reconhecimento tanto por suas realizações na medicina quanto sua participação na esfera política.
Parque Trianon – Localizado no coração dos JARDINS, o Parque Trianon é um refúgio verde em meio à selva de concreto da cidade. Com sua exuberante vegetação e trilhas para caminhadas, o parque oferece um espaço de lazer e contato com a natureza para moradores e visitantes. Seu nome é uma homenagem ao Palácio de Trianon, uma residência real localizada nos arredores de Paris (França). O palácio foi construído no século XVII e era conhecido por seus belos jardins e pela rica história associada à realeza francesa. A inspiração para o nome do Parque Trianon em São Paulo provavelmente veio da semelhança entre os jardins do palácio e os belos espaços verdes deste parque paulistano. Um oásis de natureza que desponta no concreto da cidade. O Parque Trianon tem mérito destacado na preservação do paisagismo verde bem como na criação de ambientes urbanos agradáveis e acolhedores.
Rua Augusta – Embora não esteja localizada inteiramente no JARDINS, a Rua Augusta é um ponto de destaque na região. Conhecida por sua vida noturna agitada, com bares, casas de show e teatros, a rua atrai uma multidão de jovens e boêmios em busca de entretenimento. Anos atrás, a região recebeu atenção especial por parte do poder público e do setor imobiliário com a finalidade de ser revitalizada e ganhar valorização na ocupação tanto residencial quanto comercial e empresarial.
MASP (Museu de Arte de São Paulo – Situado na Avenida Paulista, o MASP é um dos mais importantes museus de arte do Brasil. Sua arquitetura modernista projetada por Lina Bo Bardi e sua vasta coleção de obras de arte fazem dele um marco cultural não só dos JARDINS, mas de toda São Paulo. O acervo do MASP detém obras clássicas de pintores lendários como Picasso, Van Gogh, Rembrandt, Matisse e muitos outros nomes internacionais históricos. Sem falar na presença ilustre de brasileiros como Di Cavalcanti e Portinari.
Hospital das Clínicas – Localizado próximo à Avenida Paulista, o Hospital das Clínicas é uma das maiores instituições de saúde do país. Além de oferecer atendimento médico de excelência, o hospital é referência em pesquisa e ensino na área da saúde na América Latina.
Jardim América e Jardim Europa – Esses dois bairros adjacentes também desempenharam um papel importante na história do JARDINS. Com suas mansões suntuosas e ruas arborizadas, complementam o perfil nobre e residencial dos JARDINS, contribuindo para sua reputação como um dos endereços mais desejados de São Paulo.