Hoje, empresas devem preparar seus novos ambientes com a convicção de que muita gente quer sua rotina profissional de volta.
A história da humanidade vai e vem em ondas. Movimentos de grande intensidade e em larga escala que mudam radicalmente a situação de vida dos seres vivos e do planeta, de forma que as transformações tragam uma acomodação dentro de uma nova realidade, com o ser humano modificado, mas ainda o mesmo em boa parte de sua essência.
O ano de 2020 tem todo o potencial para ser representativo de mais uma dessas ondas. Com a tônica dominante de que a oscilação foi violentamente brusca a ponto de sinalizar claramente que nada mais será como antes. Será mesmo?
Pesquisas mostram uma grande aprovação do trabalho remoto pelos funcionários de muitas empresas. Mas analisando o longo prazo e pensando em um momento em que a vacina já tenha sido descoberta, 70% das pessoas optariam pelo formato remoto por, no máximo, 2 vezes por semana. Definitivamente os escritórios não vão acabar.
Os escritórios são importantes para as empresas. O ambiente de trabalho é extremamente relevante para o desenvolvimento da cultura da empresa e para retenção de talentos. E ainda: 65% dos funcionários das empresas sentem falta da interação social física que esses espaços proporcionam. Sem falar que a dupla jornada de trabalho e rotina familiar gera um desafio no longo prazo e que a socialização das pessoas é necessária. Crucial, até.
A pandemia fez transbordar preocupações e rupturas. Nos espaços corporativos os novos protocolos exigem muito mais que disponibilização de álcool em gel. No mercado brasileiro, onde os escritórios têm uma característica de serem muito adensados, há a necessidade de ampliação dos espaços para garantir a distância de 1,5 metros entre os funcionários. O padrão atual de uma pessoa para cada 7 metros quadrados, passaria para uma pessoa a cada 10 metros quadrados. Isto significa que, onde trabalhavam 140 pessoas, passariam a trabalhar 100. Muitas empresas já estão readequando os layouts dos escritórios. O maior distanciamento entre as mesas de trabalho tende a equilibrar a balança de uma possível vacância devido a um crescimento de trabalho remoto.
Escritórios de qualidade têm mais flexibilidade, possibilitando a implantação de novas tecnologias, como sistemas de ar-condicionado e de limpeza necessários no pós-pandemia. “Os escritórios de menor qualidade vão ficar obsoletos mais rápidos e, para implementar essas tecnologias, o investimento será muito grande”, ressaltou Daniel Cherman, da Tishman Speyer Brasil, durante a Convenção Secovi 2020. “Apesar das mudanças, as lajes corporativas e escritórios de qualidade continuarão demandados.”
Após queda na ocupação de salas comerciais entre abril e junho de 2020, julho já mostrou uma retomada no setor, segundo dados do Secovi-SP. Os projetos que vão apresentar melhor desempenho são os mais bem localizados e bem construídos. Com a crise, o preço do aluguel dos imóveis mais disputados tende a subir mais devagar, mas deve continuar em alta, justamente porque havia um desequilíbrio entre oferta e demanda. Muitas empresas querem esses espaços e não há previsão de lançamentos.
Vejamos o exemplo da cidade de São Paulo: em regiões bem mais valorizadas, como Juscelino Kubitschek, Faria Lima, Paulista e Itaim, os escritórios são bastante disputados. A vacâncias dos imóveis fica abaixo de 10% e a oferta deve continuar baixa nos próximos anos. Existe uma falta estrutural de imóveis comerciais de qualidade. Por isso, alugar um prédio nas regiões mais prestigiadas ainda é difícil, mesmo na crise.
Neste panorama, um novo eixo se desenvolve: a região norte da Faria Lima e Pinheiros, onde a completa infraestrutura comercial e de serviços, além da facilidade de acesso e intensa vida cultural contribuem muito para sua valorização.
Há que se reconhecer que o mercado imobiliário brasileiro sempre foi marcado por ondas também. Apesar das turbulências serem inerentes, a pandemia é prova jamais experimentada pelo setor na era moderna. Mas as pessoas estão pedindo sua vida profissional de volta e os ambientes de trabalho precisam dar conta disso. As empresas que forem responsáveis com o bem-estar dos funcionários, cuidando da qualidade, segurança e localização de um empreendimento corporativo, podem se tornar os lugares mais desejáveis de se trabalhar.
Diante das circunstâncias, o mercado pode se equilibrar rapidamente, mantendo o ciclo de recuperação com um resultado duplo: o retorno das pessoas a suas rotinas de trabalho e o retorno dos (e para) investidores que acreditarem no setor. Quem sabe, uma onda que vem para ficar.